Fonte: Dizer o Direito
Referência: https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2021/08/info-1020-stf.pdf
DIREITO TRIBUTÁRIO: TAXA - É constitucional a instituição de taxa pela qual observada equivalência razoável entre o valor
exigido do contribuinte e os custos referentes ao exercício do poder de polícia, nos termos do
art. 145, II, da CF/88
É constitucional a Taxa de Registro de Contratos devida pelo exercício regular do poder de
polícia ao Detran/PR, prevista no § 1º do art. 3º da Lei nº 20.437/2020, do Paraná, observada
a equivalência razoável entre o valor exigido do contribuinte e os custos referentes ao
exercício do poder de polícia.
STF. Plenário. ADI 6737/PR, Rel. Min. Carmem Lúcia, julgado em 7/6/2021 (Info 1020).
NOÇÕES GERAIS SOBRE TAXAS
Quantas e quais são as espécies de tributos?
CTN (art. 5º)
Teoria tripartida, tricotômica ou tripartite.
Existem 3 espécies de tributos: a) Impostos b) Taxas c) Contribuições de melhoria
STF e doutrina majoritária
Teoria pentapartida ou quinquipartida
Existem 5 espécies de tributos:
a) Impostos
b) Taxas
c) Contribuições de melhoria
d) Empréstimos compulsórios
e) Contribuições especiais
O que são as taxas?
A taxa é uma espécie de tributo paga pelo contribuinte em virtude de um serviço prestado pelo Poder
Público ou em razão do exercício da atividade estatal de poder de polícia.
Características
Diz-se que a taxa é um tributo bilateral, contraprestacional, sinalagmático ou vinculado. Isso porque a taxa
é um tributo vinculado a uma atividade estatal específica, ou seja, a Administração só pode cobrar se, em
troca, estiver prestando um serviço público ou exercendo poder de polícia.
Há, portanto, obrigações de ambas as partes. O poder público tem a obrigação de prestar o serviço ou
exercer poder de polícia e o contribuinte a de pagar a taxa correspondente.
Previsão
A disciplina sobre as taxas está prevista no art. 145, II, da CF/88 e no art. 77 do CTN.
Quem pode instituir taxa?
A União, os Estados, o DF e os Municípios.
Trata-se de tributo de competência comum.
A taxa será instituída de acordo com a competência de cada ente. Ex.: Município não pode instituir uma
taxa pela emissão de passaporte, uma vez que essa atividade é de competência federal.
Logo, a competência para a instituição das taxas está diretamente relacionada com as competências
constitucionais de cada ente.
Espécies de taxas
As taxas podem ter dois fatos geradores:
• o exercício regular do poder de polícia; ou
• a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou
posto à sua disposição (art. 77 do CTN).
Com base nisso, pode-se dizer que existem duas espécies de taxa:
• taxa de polícia;
• taxa de serviço.
Base de cálculo das taxas
Base de cálculo é o valor sobre o qual a alíquota irá incidir. Ex: a alíquota do tributo é de 5%. A base de
cálculo é 1000 reais. Logo, o valor do tributo será 5% de 1000 reais (50 reais).
A base de cálculo deve estar prevista na própria lei.
Qual critério o legislador deve adotar para fixar a base de cálculo das taxas?
Vimos acima que a taxa é um tributo contraprestacional. Logo, sua base de cálculo deve estar relacionada
com o custo do serviço ou do poder de polícia exercido.
Vale ressaltar, no entanto, que não é necessário que a base de cálculo seja exatamente igual ao custo do
serviço público prestado. A base de cálculo da taxa deve estar relacionada com o custo. Deve haver uma
“equivalência razoável entre o custo real dos serviços e o montante a que pode ser compelido o
contribuinte a pagar.” (Min. Moreira Alves, STF Rp 1077/RJ).
Assim, o que não pode ocorrer é o valor da base de cálculo ser muito superior ao custo do serviço, uma
vez que, nesse caso, haveria enriquecimento sem causa por parte do Estado ou até mesmo uma forma de
confisco (STF, ADI 2551).
TAXA DE POLÍCIA (TAXA DE FISCALIZAÇÃO)
Em que consiste a taxa de polícia?
É a taxa instituída pelo poder público para custear a sua atuação no exercício efetivo do poder de polícia.
Em outras palavras, é a taxa cobrada como contraprestação pelo fato de o Estado estar realizando uma
atividade de fiscalização.
O que é poder de polícia?
Segundo o art. 78 do CTN, poder de polícia é...
- uma atividade realizada pela administração pública
- consistente em regular a prática de um ato ou a abstenção de fato,
- limitando ou disciplinando direitos, interesses ou liberdades das pessoas
- em benefício do interesse público (segurança, higiene, ordem etc.).
Algumas vezes nas provas é cobrada a redação literal do art. 78, razão pela qual vale a pena a sua
transcrição aqui:
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou
disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato, em
razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina
da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou
autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos
individuais ou coletivos.
Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado pelo
órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se
de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder.
Exemplos de realização do poder de polícia: licença concedida pelo Município para construir segundo
determinados critérios, licença para dirigir, licença para ter porte de arma, alvará de funcionamento de
indústria etc.
Exercício regular do poder de polícia
Segundo explica Ricardo Alexandre, “só se pode cobrar taxa de polícia pelo efetivo exercício desse poder.”
(Direito Tributário esquematizado. São Paulo: Método, 2012, p. 27). No entanto, o STF considera que o
simples fato de existir um órgão estruturado que exerça permanentemente atividade de fiscalização já
permite a cobrança da taxa de polícia de todos quantos estejam sujeitos a essa fiscalização.
Assim, admite-se a cobrança periódica de todas as pessoas que estejam sujeitas à fiscalização, tenham ou
não sido concretamente fiscalizadas, desde que o órgão fiscalizador esteja estruturado e a atividade de
fiscalização seja regularmente exercida. Ex: no caso da taxa de controle e fiscalização ambiental – TCFA, o
STF decidiu que era legítima a exigência dessa taxa a ser paga pelas empresas potencialmente poluidoras,
independentemente de sofrerem fiscalização efetiva (RE 416601, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno,
julgado em 10/08/2005).
Exemplos de taxas de polícia
• Taxa de alvará (de funcionamento ou localização): exigida pelos Municípios das pessoas que desejam
construir imóveis. Toda construção feita deverá ser fiscalizada pelo poder público municipal para verificar
se está de acordo com o plano diretor. Essa atividade de fiscalização é custeada pela taxa de alvará.
• Taxa de fiscalização de anúncios: compete aos Municípios a fiscalização e controle das placas de
publicidade que são instaladas nas cidades (ex.: outdoors). Essa atividade de fiscalização é custeada pela
taxa de fiscalização de anúncios.
• Taxa de controle e fiscalização ambiental – TCFA: exigida pelo IBAMA para custear o exercício regular do
poder de polícia relacionado ao controle e fiscalização das atividades potencialmente poluidoras e
utilizadoras de recursos naturais.
• Taxa de fiscalização dos mercados de títulos e valores mobiliários: a Comissão de Valores Mobiliários é
uma autarquia federal que fiscaliza o mercado de ações. Ao desempenhar essa atividade, realiza poder de
polícia, sendo remunerada por meio da presente taxa. Sobre o tema, vale lembrar a Súmula 665 do STF:
“É constitucional a Taxa de Fiscalização dos Mercados de Títulos e Valores Mobiliários instituída pela Lei
7.940/89”.
CASO CONCRETO JULGADO PELO STF
No Paraná foi editada a Lei nº 20.437/2020, que instituiu a Taxa de Registro de Contratos com cláusula de
alienação fiduciária em operações financeiras, consórcio, arrendamento mercantil, reserva de domínio ou
penhor. Confira:
Art. 1º Institui a Taxa de Registro de Contratos, devida pelo exercício regular do poder de polícia
do Detran-PR, relativa ao registro de instrumentos referentes aos financiamentos de veículos com
cláusula de alienação fiduciária em operações financeiras, consórcio, arrendamento mercantil,
reserva de domínio ou penhor.
Art. 2º São contribuintes da Taxa de Registro de Contratos as pessoas, físicas ou jurídicas, que
utilizem o serviço de registro de contratos de financiamento de veículos com cláusula de alienação
fiduciária em operações financeiras, consórcio, arrendamento mercantil, reserva de domínio ou
penhor.
Art. 3º O recolhimento da Taxa de Registro de Contratos se dará no momento da solicitação ao
Detran-PR do registro dos contratos de que trata o caput do art. 1º desta Lei.
§ 1º O valor da taxa é de R$ 173,37 (cento e setenta e três reais e trinta e sete centavos).
§ 2º O recolhimento da taxa será realizado pelas instituições financeiras responsáveis pela
inserção do registro do contrato.
O partido Avante ajuizou ADI contra a referida lei afirmando que ela contraria o art. 145, II, o art. 150, IV
e o art. 5º, LIV, da CF/88:
Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes
tributos:
(...)
II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de
serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição;
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
IV - utilizar tributo com efeito de confisco;
Art. 5º (...)
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
O que o STF decidiu? O pedido foi acolhido? A lei é inconstitucional?
NÃO.
A Taxa de Registro de Contratos, devida pelo exercício regular do poder de polícia do Detran/PR, não se
afigura excessiva a caracterizar ofensa ao princípio que veda a utilização de tributo com efeito de confisco.
Não há, tampouco, incongruência entre o valor da taxa e o custo da atividade estatal por ela remunerada.
A taxa tem caráter vinculado, nos termos do art. 145, II, da CF/88. Isso significa que deverá haver uma
relação objetiva entre o fato gerador do tributo, o quantum debeatur (base de cálculo e alíquota) e o
efetivo ou potencial gozo da utilidade estatal colocada à disposição do contribuinte.
Como espécie de tributos retributivos ou contraprestacionais, as taxas não podem ser cobradas sem que
o Estado exerça o poder de polícia ou preste ou coloque à disposição do contribuinte um serviço público
específico e divisível.
Além disso, não podem ter base de cálculo própria de impostos (art. 145, § 2º). A base de cálculo dos
impostos é pautada em grandeza econômica, enquanto que, como tributo vinculado, a base de cálculo
das taxas deve ser calculada pelo valor da atividade exercida pelo Estado. Daí decorre a necessária
correlação proporcional entre o custo do serviço prestado e o valor pago pelo contribuinte.
Lei nº 20.437/2020
No Paraná, antes da Lei estadual nº 20.437/2020, o registro de contratos com cláusula de alienação
fiduciária era realizado em duas etapas. A primeira era de responsabilidade da empresa registradora
credenciada, e a segunda, do Detran/PR.
A Resolução nº 807/2020 de 15.12.2020, do Conselho Nacional de Trânsito – Contran, retirou a
obrigatoriedade de intermediação das empresas credenciadas registradoras de contratos.
Em seguida, foi publicada a Lei nº 20.437/2020 do Paraná, pela qual prevista a responsabilidade do
Detran/PR para realizar todo o processo diretamente, ou seja, sem intermédio das empresas registradoras
credenciadas. A norma expressamente consignou que a taxa instituída se refere ao poder de polícia
exercido pelo Detran/PR.
Antes da instituição da taxa pela Lei estadual nº 20.437/2020, o preço pago pelo usuário do serviço era de
R$ 350,00 (trezentos e cinquenta reais). Com o advento da Lei, o custo atribuído ao serviço foi fixado em
R$ 173,37 (cento e trinta e sete reais e trinta e sete centavos), apurado como valor razoável para a
remuneração total dos serviços após estudos técnicos realizados pelo Detran/PR.
Diante disso, o STF afirmou que não há desproporcionalidade no valor estipulado pela norma impugnada,
considerando a assunção, pelo órgão de trânsito, das atividades antes desenvolvidas pelas empresas
registradoras de contratos por operação realizada.
Com base nesse entendimento, o STF julgou improcedente o pedido formulado na ADI, trazendo a
seguinte conclusão:
É constitucional a instituição de taxa pela qual observada equivalência razoável entre o valor exigido do
contribuinte e os custos referentes ao exercício do poder de polícia, nos termos do art. 145, II, da
Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 6737/PR, Rel. Min. Carmem Lúcia, julgado em 7/6/2021 (Info 1020).